Capítulo II - Renascimento

A universidade me forçou a entrar de férias antes do esperado, já faz um tempinho. Adicione a eliminação de uma das matérias (obrigado, Deus!) e o desemprego persistente, e teremos uma das épocas mais ociosas da minha vida. Tive bastante tempo pra voltar a escrever aqui, e admito que queria ter começado muito antes. Em Abril, por exemplo.
Nesse meio tempo, muita coisa mudou, principalmente em relação a mim. Talvez, Abril fosse muito cedo, dado quanto mudei, mas admito que acabei extrapolando nesse tempo ausente daqui. Em todo caso, aqui estou novamente, voltando aos trabalhos.

Por onde começo? Primeiramente, sobre o capítulo anterior: perdi a mania de ficar girando o anel do meu dedo, ou melhor, de tentar girar, já que fazem mais de 5 meses que não uso mais. Isso não significa apenas que parei com um vício, mas também que todo, ou quase todo, sentimento envolto nisso se foi. Aquela tempestade de pensamentos que me assolava por tudo que perdi, sumiu. Assim como a dor no meu coração e uma imensa tristeza como nunca havia sentido antes. Tudo isso se foi. E isso seria ótimo, se fossem as únicas coisas que tivessem desaparecido. Infelizmente, vi também partir grande parte da minha alegria, da minha raiva, do meu nervosismo, do meu orgulho. Eu voltei a um ponto que pensava nunca mais estar – inclusive, tinha um medo absurdo de voltar – ao menos, não tão cedo. Me senti vazio.
E era a única coisa que eu conseguia sentir.

Vazio.

Alguns diriam que eu estava apático. Não sei se é o correto, pois tenho pra mim que alguém nesse estado não consegue demonstrar sentimentos, não se expressa ou reage, enquanto que eu me mantive brincalhão como sempre fui. Alguns poucos até notavam que eu tava mais quieto, fazendo menos piadas ou rindo pouco. Mas era algo sútil, nada que criasse alarde, e sempre era notado por alguém que sabia o que eu tinha passado, então era plausível que não estivesse tão bem como sempre.
Não, eu ainda fazia as pessoas rirem. Eu ria com elas. Continuei falando merda como sempre fiz, tentando deixar as pessoas de bem com a vida. Talvez porque eu não queria que mais ninguém se sentisse como eu me senti. Ou talvez porque já faço isso naturalmente, sem esforço.
O fato é que, por dentro, no fundo da minha alma, eu tava frio, parado, praticamente morto. Nada me alegrava, nem me irritava, ou me entristecia. Não tive mais problema com stress, tampouco me empolgava com o que quer que fosse. Fiquei sem vontade pra tudo. Assim como fiquei ano passado.

Como eu havia dito, tenho amigos que já sofreram – e ainda sofrem, na maioria dos casos – por causa da depressão. Conversando com eles, pudemos chegar a duas conclusões: que eu sou uma pessoa problemática, a conclusão óbvia, e de que eu não apenas cheguei perto da depressão, ano passado. Eu TIVE depressão. Eu pude entender melhor o que uma pessoa depressiva sente, porque eu também estava depressivo. A diferença entre eles e eu é que, graças a Deus, eu consegui sair rápido desse estado. Foi como se eu tivesse caído de um navio em alto mar, mas conseguisse alcançar uma boia logo em seguida, enquanto os outros, que também caíram, ainda se debatem pra tentar alcançar a superfície.
Claro, isso não é um diagnóstico oficial. Não foi um psicólogo que me disse isso – ou psiquiatra, nunca sei quem cuida disso – depois de me fazer exame. Mas veio de pessoas com experiência própria, que ainda sentem na pele, logo, um mínimo de consideração deve ser levado.
Independentemente, o que eu senti, ano passado, foi uma experiência terrível. Quando comecei a me reerguer, um dos meus maiores medos era justamente cair de novo, porque eu sabia que, se isso acontecesse, a queda seria mais dura. E, dessa vez, provavelmente, eu não conseguiria levantar. Eu sabia que, se um dia eu ficasse vazio do jeito que fiquei ano passado, talvez não houvesse volta.

Pois eu fiquei vazio, novamente. Mas, talvez, eu tenha me enganado. Pelo menos, um pouco.

Uma coisa que eu acho engraçado, é quando descubro que aqueles ditos populares e frases "genéricas" que as pessoas dizem são a mais pura verdade. No caso, o tal do "um dia após o outro" que se ouve de quem saiu de um vício ou superou um trauma. É uma frase tão besta que chega a doer o quão realista ela é. Depois que superei minha depressão – e, ainda que não tenha sido, tratarei como se fosse – precisei viver um dia por vez. Pensando no futuro, claro, mas se concentrando em sobreviver o dia atual. Uma meta diária de chegar na hora de dormir e poder descansar em paz (literalmente) sem arrependimentos pelo que fiz, ou deixei de fazer. Não é sempre que consigo, aliás.
A questão é que, nesses 3 meses que se passaram desde o último capítulo, eu tive uma tristeza profunda, uma dor dilacerante e muitos arrependimentos. Superei isso, mas perdi meus sentimentos no processo. Voltei ao mesmo ponto que estava ano passado, com grandes chances de voltar à depressão, porém, em um nível muito pior. Eu estava, novamente, vazio. O cenário era perfeito pra eu cair novamente.

Mas eu fiquei em pé.
Mesmo fraco, eu fiquei em pé.
Não sei dizer ao certo como, mas fiquei em pé.

Talvez, em parte graças à minha mente, que se fortaleceu um pouco. Em parte graças a uns poucos amigos a quem compartilhei meu estado. Em parte graças a minha fé, ainda que pouca, mas que me manteve firme em outras ocasiões.
Não consigo dar a resposta exata de como me mantive assim, nem como saí da depressão, ou como encaro meus dias. Queria muito, pra poder ajudar quem passa por isso. Mas não consigo.
Só que, depois disso, eu comecei a entender algumas coisas importantes, ao menos pra mim. Eu aprendi mais sobre mim mesmo. Descobri que sou bastante racional, até metódico, mesmo em situações desesperadoras. Mas minha mente também é frágil, podendo se romper à menor pressão que eu sofra. Sou bem extrovertido, que brinca com todo mundo e faz palhaçada até com quem não conhece, ao mesmo tempo que sou tímido e tenho medo de agir em muitas situações.
A cada dia que passava, eu aprendia um pouco mais sobre mim. A cada dia que eu sobrevivia, eu extraia algo de bom. A cada dia que eu encerrasse sem definhar, era um prêmio pra mim.
Em certo ponto, parei de tentar entender porque não cai de vez. Simplesmente aceitei minha realidade e tentei lidar com ela, com paciência. O que o mundo colocasse na minha frente, eu tentaria superar, mesmo sem saber o que tava fazendo. E, claro, falhei muitas vezes por conta disso. Talvez até mais do que tive sucesso.
Mas, no dia seguinte, tento de novo. Estudar mais, ser mais paciente, ajudar mais os outros – ou ao menos tentar entender mais – principalmente em casa, ser uma versão melhor de mim. Mesmo se, logo de manhã, eu faça alguma cagada e estrague todo o resto do dia. Pelo menos nesse dia, tentar ser alguém melhor. Pelo menos hoje, ser uma versão melhor de mim.

Como dizem: um dia após o outro.



Gostei mais desse final, apesar de ainda não ser o melhor. Fazer o que...

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