Capítulo IV - Vento da Mudança (Parte I)

Como sempre, demorei mais do que eu gostaria pra voltar aqui. Nesse tempo, muita coisa aconteceu - como sempre acontece quando eu demoro pra escrever - e muitos pensamentos se formaram. Tem outras coisas que eu queria falar, talvez até mais importantes que o que programei pra esse capítulo, mas não posso me demorar mais. Mesmo o que eu penso sobre o que se segue já teve mudanças nesse período ausente. Portanto, sem mais delongas.

O ponto a ser discutido aqui é CARREIRA PROFISSIONAL. Pra isso, preciso dividir o capítulo em dois tópicos: graduação e hobby. Essa divisão será importante pra detalhar melhor o assunto e me ajudar a não perder a linha de raciocínio. Como eu disse antes, é um tema extenso, que precisa da minha atenção total por ser algo que envolve minha vida como um todo.
Possivelmente, mudarei de opinião ao longo desse monólogo, encontrarei um novo ponto de vista, ou até mesmo posso chegar ao fim desse capítulo e perceber que falei várias bostas.
No final das contas, esse é o objetivo desse lugar, não? Enfim, ao primeiro tópico.

  1. GRADUAÇÃO
Minha situação na universidade já foi bem explicada anteriormente. Não consegui concluir o que me faltava e, portanto, preciso refazer o último ano do curso. A essa altura, não tenho certeza de quantas vezes já tentei só esse último ano. Mas a questão importante é outra.

Eu realmente preciso refazer o último ano?

Ok, a resposta é simples: se eu quero me formar, sim, eu preciso refazer o último ano. O problema está na condição dessa resposta. "Se eu quero me formar".
Veja, para ser graduado, conquistar um título acadêmico, ser formado, todos os critérios da faculdade precisam ser cumpridos. Ou seja, além da aprovação nas matérias ofertadas pelo curso, é preciso executar a parte prática (estágio), participar de palestras e eventos que contribuam com sua formação (horas acadêmicas) e realizar um trabalho final que demonstre que aprendeu e sabe usar o conteúdo do curso (TCC). Nesse momento, o que me falta para concluir o curso são algumas disciplinas e horas acadêmicas. Sim, falta muito pouco. Sim, tô quase lá. Sim, eu ouço isso toda hora. E, por isso, costumo não falar sobre.
  • Sobre as matérias
Meu curso é dividido em ênfases, cada uma com matérias específicas de outros departamentos, porém com mesmas disciplinas do nosso departamento. Por exemplo, além das matérias do meu departamento, eu tive matérias do departamento de informática. Todas as turmas tem essa divisão a partir do terceiro ano. Antes disso, as matérias são as mesmas, independente da ênfase. São as disciplinas "base" do curso. A parte das contas. As matérias que me faltam ser aprovado são justamente dessa base, logo, são do começo do curso.
As matérias mais importantes do curso - e aqui eu faço questão de não usar aspas - são as do meu departamento e da minha ênfase, afinal, são elas que definem a minha área, o meu setor. Cálculo, física, química, são importantes pra formação, mas não são o que definem um médico, um engenheiro ou um advogado de verdade. Todo conhecimento é válido e é bom, aprender nunca é demais, concordo com isso. Mas não saber calcular a temperatura no interior de uma parede não é crucial pro sucesso de um gerente executivo.
A questão nesse ponto é a importância das matérias que me restam. Vamos ao próximo ponto.
  • Sobre as horas acadêmicas
Cada curso exige um número de horas em Atividades Acadêmicas Complementares (AAC). Alguns mais, outros menos, mas condizentes com a área de atuação. Ou com o que os chefes de departamento acreditam ser o ideal. Essas AACs podem ser angariadas de várias formas: participando de simpósios e congressos, assistindo palestras, realizando trabalhos de pesquisa ou mesmo integrando equipes de desenvolvimento de algum estudo.
Na verdade, tem inúmeras formas de conseguir essas horas. Você não precisa, necessariamente, ter feito alguma atividade relacionada ao seu curso. Uma palestra sobre empreendedorismo vale horas pra qualquer graduação, de humanas a exatas. O mesmo vale pra cursos de defesa pessoal, clubes de esportes ou "estágio" em secretarias.
Tome meu exemplo, novamente: mais da metade das horas que eu consegui foram trabalhando na secretaria de um departamento da minha faculdade. E eu não fiz nenhuma atividade relacionada ao meu curso enquanto estive lá, tanto que quem ocupava a vaga antes de mim, e quem entrou no meu lugar, eram de cursos totalmente diferentes do meu, mas que realizaram as mesmas tarefas que eu fiz quando trabalhei lá.
Eu participei de palestras sobre experiências em intercâmbios sociais, cursos de programação básica, visita técnica em cervejaria, e todas valeram horas acadêmicas pro meu curso. Eu tenho, pasme, um certificado valendo uma hora de AAC por ter ASSISTIDO O FILME DO MATRIX.

Sim.

Nesse ponto já ficou claro que as AACs não são algo relevante pra graduação. Quero dizer, se qualquer tipo de evento ou curso que garante um certificado, vale horas acadêmicas, então por que fazê-las? Qual o sentido de fazer AACs?
Na verdade, tem bastante coisa na faculdade que não faz sentido pra mim, mas vamos focar nesses pontos primeiro. O próximo é mais aceitável.

  • Sobre o TCC
Não são todos os cursos que exigem TCC, se não me engano. Ao menos, não uma apresentação do trabalho com banca examinadora. De toda forma, é uma parte importante da graduação, pois é onde você mostra que conseguiu extrair o máximo de aprendizado durante os anos em que esteve lá. Dependendo do curso, você usa todo o conhecimento adquirido pra elaborar seu TCC.
O problema que eu vejo é que, na prática, não é bem isso que acontece.
Costuma-se dizer que existam dois tipos de TCC: os que são feitos para aplicação prática e os que são feitos apenas para serem aprovados. E, pelo número de artigos e monografias que eu já li, acredito que a maioria se encaixe nesse segundo tipo. Trabalhos feito sobre outros trabalhos, releituras de estudos, propostas de pesquisas. Todos esses tem seu valor acadêmico, é verdade. Mas é difícil acreditar que o esforço pra elaborar esses estudos foi semelhante ao dos que fizeram trabalhos sobre construção de centros sociais, implementação de sistemas de produção ou pesquisas sobre vacinas ainda não descobertas.
Novamente, pegue o meu TCC como exemplo (afinal, esse espaço inteiro é sobre mim). Fiz uma avaliação da minha universidade com base nos rankings universitários mais conhecidos. Com esse tema, creio ser no mínimo complicado descobrir qual curso eu faço. É algo genérico, simples, até besta. Se fosse um estudo mais aprofundado, poderia ser de grande ajuda pra universidade, não tenho dúvidas. Mas não foi, e nem será aprofundado. Foi um tema que minha orientadora sugeriu, e ainda teve mudanças nos 3 primeiros meses de elaboração. Um tema quase que completamente desconexo com minha área.

A banca me deu 8.0/10.0.

Ok, eu pude usar um pouco do que aprendi no meu curso, enquanto elaborei esse trabalho. E é preciso levar em conta que meu curso é um dos que mais possuem áreas de atuação, logo, é praticamente impossível aplicar tudo que vimos em um único estudo.
Mesmo assim, perceba o quão vago pode ser um TCC. Um trabalho que, como o próprio nome diz, deveria CONCLUIR o curso. Representar o fim da jornada acadêmica, todo o conhecimento adquirido. Mostrar que você está preparado para ir ao mundo pelos caminhos que escolheu.
Ou, se preferir, você pode só ler uma pesquisa publicada e avaliar os resultados de forma diferente do autor. Coloque umas palavras adequadas e será aprovado.
Basicamente, o que eu fiz. E deu certo. Último ponto.
  • Sobre o estágio
Essa é a parte determinante no curso, uma das mais preocupantes, e a que me fez começar a pensar sobre esse assunto. E me frustrar, também.
Assim como não são todos os cursos que exigem defesa de TCC, menos ainda são os que exijam a realização de um estágio supervisionado. O tal do estágio obrigatório. Trata-se de um período que você passa em alguma empresa para tanto por em prática alguns fundamentos que você aprendeu no curso, quanto para aprender na prática sobre o que seu curso realmente trata. Por ser necessário ter algum conhecimento na área antes de ingressar em uma empresa, estágios são, num geral, autorizados apenas a partir do segundo ano de curso (no meu caso, a partir do terceiro). Isso vale tanto para obrigatório quanto pra não-obrigatório.
É claro que quem recebe o estagiário não vai incumbi-lo de uma responsabilidade muito grande. Nenhum hospital deixaria um estudante do segundo ano realizar uma cirurgia de risco. Uma construtora não deixaria um recém aprovado desenvolver um projeto arquitetônico. O Estado não deixaria um réu sob a defesa de alguém que teve suas primeiras prova de Direito Cível no mês passado. Isso é mais que irresponsabilidade, é burrice.
Até aí, eu concordo com todas as medidas que os departamentos tomam em relação ao estágio. O que me dói é a burocracia. E, por burocracia, eu me refiro especificamente ao relatório de desempenho, necessário pra quem faz estágio obrigatório.
A ideia desse documento é boa. Aliás, na teoria, eu diria que é fundamental. Uma forma de relatar as atividades que você executou durante o estágio, mostrando que pôde aplicar um pouco de seu conhecimento e, de quebra, ajudou a empresa no que ela precisava. Agora, vamos analisar o documento em si. Não sei se o nível de detalhamento do relatório de outros cursos é igual, mas o meu me deixou inconformado.
Pequena contextualização: a empresa que fiz o estágio obrigatório é imensa, uma fábrica enorme. Nos últimos anos teve um crescimento gigantesco e continua crescendo. A correria lá dentro é voraz, tanto no chão de fábrica quanto nos setores administrativos. Se você parar pra tomar fôlego, eles te devoram. Tchau, bênção, vaga em aberto.
Consegui me adaptar ao lugar, ao ambiente. Ainda tô me adaptando, mas já consegui seguir o ritmo e agregar valor a empresa. Tanto que fui efetivado no começo do ano. A questão do relatório que eu precisava fazer é que ele pedia pra detalhar a hierarquia da empresa, as tecnologias usadas, todo o processo da fábrica de ponta a ponta, além de outros pontos que nem lembro mais. Lembra da correria que eu mencionei? Ainda hoje não conheço todo mundo da fábrica (são quase 500 funcionários), não sei quem são os líderes (existem vários setores, cada um com líderes, administradores, gestores e gerentes), existem centenas de máquinas espalhadas pela empresa que são utilizadas na produção e não são todas utilizadas em cada produto criado, pois existem vários processos de fabricação lá. Com sobrecarga de produção, peças em falta, pedidos atrasando, implementação de sistema e a aplicação de uma nova cultura na fábrica, como caceta eu vou parar o meu serviço pra sair perguntando o nome e cargo das pessoas, ou pedir pra alguém me detalhar o processo de fabricação de cada máquina, ou descrever as características técnicas de cada centro de usinagem, prensa, corte a laser e todo tipo de máquina e equipamento usado na fábrica? Detalhe: isso nos primeiros dias de estágio.
Não é preciso dizer - mas já dizendo - que eu não pude entregar meus relatórios a tempo. E chego ao ponto que estou hoje, efetivado numa empresa grande, com oportunidade de crescimento, mas sem poder me graduar porque não pude parar de trabalhar pra fazer visita técnica no local. Contando outras empresas, tenho quase 2 anos de estágio na minha área. Esse tempo, no entanto, de nada vale pra universidade, porque é necessário um documento assinado pra "comprovar" que eu estagiei lá. O período e a experiência do estágio valem menos que um documento que descreve o que eu devo fazer.
  • Considerações
No começo eu havia dito que o tema seria carreira profissional, e aqui estou falando apenas da minha faculdade. É certo que os dois temas estão ligados diretamente, mas eu sei que não cheguei na parte da carreira com todo esse texto. Se o tema fosse dificuldades para graduação, esse pensamento podia se encerrar aqui. Contudo, eu também havia dito que precisaria dividir o capítulo em dois tópicos. E, como tópico, esse aqui está concluído.
Apenas para recapitular, quais são meus questionamentos em relação à graduação:
    • Importância das matérias restantes;
    • Relevância das AACs;
    • Desvalorização do TCC;
    • Necessidade do relatório de estágio.
Na introdução desse capítulo eu disse que precisava tomar uma decisão muito importante, em relação à carreira. Essa parte do capítulo deixa claro minha opinião sobre a faculdade, nesse momento. Isso será importante pra tomar tal decisão, mas ainda falta bastante coisa pra pensar sobre esse assunto. Por hora, vou dar um tempo pra mente e retorno logo mais pra segunda parte. Provavelmente, levarei mais de mês.



Ficou maior do que eu queria. Nem eu tenho ânimo de ler tudo isso.
Mas preciso escrever tudo que posso pra terminar logo esse assunto. Tem mais coisas que eu preciso pensar com calma e transcrever aqui.

Acho que vou tentar escrever outro poema.

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