Capítulo IV - Vento da Mudança (Parte II)

O atraso pra começar essa parte é pior do que qualquer outro que eu já tive. Não pelo fato de ter levado mais de UM ANO pra eu ter voltado aqui, mas porque é uma continuação do último pensamento que transcrevi aqui. Está diretamente ligado, são duas partes de um único capítulo. Tecnicamente, estou escrevendo esse capítulo desde Fevereiro do ano passado. Não foi apenas um ano sem trazer novos pensamentos. Foi um ano sem concluir o último que tive. Sem contar que era um dos mais importantes que já tive. E, por mais que tudo tenha virado do avesso, a única justificativa que tenho pra ter demorado tanto foi o desânimo. Seja por falta de entusiasmo, de energia (física e mental), ou por preguiça.

De qualquer forma, estou aqui. Mesmo que seja pra começar a escrever e demorar mais alguns meses pra poder concluir essa etapa. Sem mais, vamos continuar.

A dúvida maior que me fez começar esse capítulo foi se deveria insistir na graduação da faculdade. As condições para os cenários possíveis eram abandonar a faculdade ou o emprego atual. Na primeira parte, eu deixei claro meu ponto de vista sobre a faculdade e o que me motivou a cogitar trancar o curso. Existe ainda mais um agravante nessa conta toda que é o horário das aulas. Meu curso se tornou integral, ou seja, as aulas passaram da noite pro dia. Como eu fui efetivado na empresa que fiz estágio, não tenho tempo para acompanhar as aulas, mesmo sendo apenas uma matéria e por vídeo-conferência. Não é algo determinante para se largar um curso na etapa final, mas contribui na decisão quando somado aos outros fatores.
De toda forma, fica registrado que, olhando pelo lado da faculdade, minha tendência é de trancar o curso. Agora, sobre o trabalho. Existem alguns prós que contribuem pra essa decisão, facilitando pra mim. Mas, principalmente esse ano, surgiram diversos fatores contrários. Vamos dizer que eu pulei de uma decisão importante para outra.


    2. HOBBY

Primeiramente, só usei esse nome pra esse tópico porque eu já tinha dito que dividiria esse tema em graduação e HOBBY. Não lembro qual era exatamente minha linha de raciocínio, mas tentarei chegar lá.

  • O hobby de fato

Veja bem, quando eu me refiro a hobby, estou falando especificamente sobre edição de fotos. Sim, manipulações visuais, trabalho com luzes e cores, criações visuais, essas coisas. Desde quando comecei a mexer com isso, se passaram 15 anos mais ou menos. E desde o princípio eu encarava isso como uma diversão. Algo que eu faço em momentos livres, pra distrair, relaxar. Como uma terapia.

Acontece que, seja pela experiência que acumulei, ou por talento nato, acabei me aperfeiçoando bastante nessa área. Inclusive, ultimamente tenho desenvolvido ainda mais minhas habilidades. Comecei a me desafiar mais nas edições, aprender e utilizar novas ferramentes e técnicas, ser mais ousado nas criações e nas ideias que tenho. E, não apenas eu percebi essa melhora, como mais pessoas começaram a olhar pra esse meu lado. As últimas montagens que fiz tiveram mais atenção que qualquer outra que eu já tenha feito. Eu mesmo tenho ficado impressionado com o que fiz. Ao ponto de, por diversos dias, parar pra admirar o resultado final do meu trabalho.
Esse hobby não apenas me relaxa. Começou a me dar orgulho. Um orgulho inocente, sem arrogância. Mas suficiente pra dar um tapinha no meu próprio ombro e dar os parabéns.

Tá, beleza. Mas, se eu sou tão bom assim nisso, por que não trabalhar nessa área?

Bom, porque isso é, como dito antes, um hobby.

Perceba, tudo que eu sei sobre edição de fotos, aprendi sozinho. Quero dizer, olhando em tutoriais, vídeos na internet, vendo outras pessoas editando, ou até mesmo clicando em tudo quanto é menu pra ver o que acontece. Cheguei a fazer um curso ou outro de edição, mas nenhum me ensinou algo de novo. Eram sempre coisas que, pra mim, se tornaram básicas. Assim como nunca fiz nenhum tipo de graduação pra mexer com isso. Nunca ouve um planejamento, ou investimento, pra que eu pudesse levar isso adiante, como forma de sustento ou pra cultivar uma carreira profissional. É como crianças que se juntam todo dia pra jogar bola (se ainda existir isso). Quanto mais elas jogam, mais elas melhoram e mais elas buscam serem melhores. E isso não significa que elas querem ser jogadores profisisonais. Talvez uma ou outra, mas a maioria se dedica diariamente por pura diversão. Elas gostam disso. Assim como eu gosto de editar. É um prazer que eu tenho. Quando estou fazendo minhas montagens, eu relaxo, esqueço os problemas exteriores, deixo todas as preocupações de lado. Se, no entanto, eu começo a trabalhar com isso, o hobby se torna responsabilidade, o lazer se torna dever. A alegria se torna stress. O ânimo se torna desânimo. Eu não mais estarei fazendo o que gosto. Estarei fazendo o que preciso. E, então, quando eu quiser relaxar um pouco, terei que procurar outro hobby, porque o primeiro perdeu sua magia.

Quando eu converso sobre isso com outras pessoas, costumo dizer que é melhor gostar daquilo com que você trabalha do que trabalhar com aquilo que você gosta. É sobre isso que eu me refiro quando cito essa frase. É melhor começar a trabalhar com algo e descobrir o que há de bom lá, extraindo o que há de melhor, criando um ambiente de "paz", do que transformar o que tu já tem de paz em compromisso e, muito provavelmente, perdendo o interesse nisso. Esse sempre foi o meu medo - e maior motivo pra evitar - sobre trabalhar com edição de imagens.

  • O trabalho, a partir da faculdade
O lugar que estou hoje é a essência do meu curso de graduação: uma fábrica. Tudo que a gente aprende no curso é aplicado diretamente lá. Dos conceitos mais básicos até os mais complexos. Apesar do curso abranger muitas outras áreas, a indústria é o foco principal. Isso fica claro pra quem estuda, quanto mais tempo se passa na faculdade. Inclusive, costumamos dizer que quem faz esse curso estuda 5 anos pra descobrir o que o profissional dessa área faz de verdade.
Essa falta de conhecimento andou ao meu lado desde quando me inscrevi pra fazer o vestibular. O fato é que, quando eu resolvi tentar esse curso, eu tinha uma ideia completamente diferente do que realmente é. E foi dentro do curso que eu fui descobrindo sobre o que ele se tratava. E aprendi a gostar daquilo. As possibilidades, as atuações, os conceitos, tantas coisas novas, mas que me encantaram. E, hoje, tantos anos depois de ter iniciado os estudos, estou atuando nessa área. Vendo por esse lado, podemos dizer que eu alcancei meu objetivo como estudante. Na real, pensando mais além, eu fui um dos únicos da minha turma que conseguiu isso.
Veja, nossa turma foi uma das que mais tinha alunos quando chegou no último ano. Em torno de uns 25. Salvo exceções de uns 2 ou 3 que já trabalhavam nessa área, eu fui o único que realmente passou a trabalhar nisso. Os demais foram pra outros empregos, alguns começaram outros cursos, uns poucos ficaram presos como eu, mas sem planos pra atuar ou lecioanr sobre isso. E, assim como eu fui um dos únicos que realmente começou a atuar naquilo que a gente estudou por tanto tempo, eu também fui um dos únicos que não se graduou.

E esse é o ponto principal que favorece minha decisão de não insistir mais no curso:
Se eu já estou trabalhando na área em que estudei, por que sofrer mais pra tentar me graduar?

Afinal, desde quando entrei na faculdade, meu objetivo final sempre foi trabalhar na área em que eu me preparei. E eu consegui. Não como eu tinha planejado (assim como quase tudo que eu planejei nessa última década). Mas eu consegui. Estou trabalhando na indústria, numa das maiores fábricas da região (se não a maior) com vários benefícios e oportunidade de crescimento. Continuar me matando pra receber um papel timbrado com meu nome, oficializar um título - que, basicamente, já tenho - e, provavelmente, prejudicar meu emprego por conta de aulas e provas e tudo mais? Sinto muito, mas não tenho interesse nisso.

Agora, chegamos num ponto delicado de toda essa discussão. Num primeiro momento, vou tentar me manter na linha de raciocínio de quando comecei esse capítulo, ou, pelo menos, nos principais motivos que me fizeram pensar nisso tudo.
  • O trabalho de fato
Como eu disse antes, a empresa que eu trabalho é enorme. Logo, existem vários tipos de profissionais lá, assim como áreas para se atuar. Falta de serviço não é problema pra quem está lá dentro, a menos que a pessoa não queira. É até uma espécie de cultura da empresa: você só será demitido se REALMENTE quiser sair de lá. Oportunidade pra trabalhar não falta. Você pode ser remanejado, incubido de outro serviço ou até mesmo de horário. Mas o pessoal estará sempre a disposição pra tentar te aproveitar ao máximo, enquanto funcionário. Já teve gente que queria sair e, ao invés de demissão, recebeu uma promoção. Inclusive, isso é algo comum em empresas grandes. Pra não prejudicar a empresa nem o funcionário, "promovem" o cidadão pra um cargo em que possa ser vigiado ou controlado melhor.
Enfim, antes que eu perca o foco. Depois que eu fui efetivado, comecei a trabalhar com uma parte totalmente diferente do que eu cuidava enquanto estagiário, ainda que ambas estivessem ligadas. Essa mudança pesou um pouco na minha visão do ambiente de trabalho, justamente porque eu fiquei em contato com mais pessoas, num mesmo setor e nos setores vizinhos. A partir daí, começaram, inconscientemente, as comparações. Entre o que eu fazia e o que os demais faziam. Minhas responsabilidades e as dos outros. O que eu era e o que eles eram.
O que eu tinha e o que eles tinham.
Ainda que a maioria tivesse a mesma formação que eu, até estudado no mesmo lugar, a sensação era de que eles estavam em um nível muito superior. Era como se eu estivesse no lugar errado. Como se não pertencesse aquele mundo.
Não é preciso pensar muito pra entender que essas comparações eram sem sentido. Eu era o que tinha menos tempo de empresa, com menos experiência e menos responsabilidades. Era totalmente justificado que eu estivesse alguns degraus abaixo. Aliás, tais comparações eram desnecessárias. Nenhum benefício me trariam. E eu sabia disso.

Contudo, mais do que desnecessárias, elas eram inevitáveis. 

Sem querer usar de justificativa o fato de eu ter problemas psicológicos (ansiedade, depressão, etc.), mas já usando, toda vez que eu me comparo com alguém, faço sem perceber. E sempre me jogando pra baixo. Pode ser até falta de confiança, autoestima, sei lá. O fato é que é extremamente prejudicial pra minha mente, que é justamente o que eu tô tentando salvar desde quando cheguei nesse ponto. Minha sanidade.
Mas foram essas comparações que me impediram de decidir de vez que eu largaria a faculdade. Na verdade, elas evidenciaram algo que eu já trazia comigo, só não era tão claro como agora, ou eu apenas não queria aceitar: a minha incerteza sobre essa área de atuação.
Eu lutei, me esforcei, suei, fiz tudo que eu podia pra conseguir chegar onde estou e aprender o que podia sobre isso. Muitas vezes até me orgulhei das conquistas que tive nessa jornada (que, com certeza, são de se orgulhar mesmo, sem dúvidas). Porém...

...isso é, realmente, o que eu quero pra mim?

Aquele sentimento de estar num mundo que não pertenço, em parte era porque eu via o pessoal que trabalhava comigo em outro patamar, num nível superior de existência. Mas também era porque eu não tinha certeza se eu queria estar naquele mundo. Talvez eu estivesse no caminho errado, mas não tinha percebido antes porque fiquei admirando a paisagem.
Não que a empresa seja ruim ou coisa do tipo (lembrando que esse era meu ponto de vista de quando comecei esse capítulo). Era um lugar bom, com oportunidades e tudo mais, coisas que eu já disse outras vezes. Talvez, só não fosse o que eu queria ou precisava.
  • Considerações
Essa parte do capítulo pode ter ficado bem distante do que eu realmente queria, quando me propus pensar sobre esse assunto. Entretanto, minhas preocupações em relação à carreia profissional também mudaram. Logo, esse tópico ficaria obsoleto de certa forma, independente de quando eu terminasse ele.
Recaptulando, os pontos discutidos aqui foram:
    • Meu hobby e os motivos para não trabalhar com ele;
    • Meu trabalho e a importância da minha graduação em relação à ele;
    • Meu trabalho e se realmente é o que eu busco.
O primeiro ponto discute diretamente com o último. Afinal, se aquilo que eu dediquei parte da minha vida pra me especializar não for o caminho que eu devo seguir, então deve ser algo que eu já sou bom, ou que tenho facilidade em aprender. Caso eu desista dessa área, minhas maiores chances são naquilo que eu já tenho prática, como meu hobby. Só não o fiz antes pelos motivos que destaquei no primeiro tópico.
O segundo tópico responde por ele mesmo, além de favorecer meu ponto de vista na primeira parte do capítulo. Sem contar os outros dois pontos, a decisão por desistir da graduação é a mais sensata a se tomar. Na verdade, é a única decisão possível.
Sendo assim, a grande decisão que eu tinha que tomar já tem um fim: desistirei da faculdade.

Excelente! O trabalho aqui está feito. Levou mais de um ano, mas consegui completar o pensamento e, acima disso, cheguei na resposta que eu procurava. Hora de descansar por mais alguns meses antes de voltar aqui com outro tema. Certo?

Bom, não é tão "simples" assim. E eu queria que fosse.

Fato é que essa decisão já foi tomada muito antes, sem perceber.
Naturalmente.
E essa discussão quase se tornou irrelevante.

O problema maior (que eu não imaginava que haveria) veio agora. Consequente dessa decisão que tomei, assim como decisões que tomei no passado. Diretamente ligado aos outros tópicos de "menor importância" que abordei nessa parte. Totalmente conectado com um tema que preciso falar sobre desde quando inaugurei esse espaço.
Seja como for, o objetivo desse capítulo foi alcançado e, sendo assim, está concluído. Até porque, não quero me estender mais do que já fiz. Ainda que o próximo pensamento seja uma continuação desse, a situação é outra, o tema é outro, a importância é outra. Preciso de um espaço próprio apenas pra isso. E preciso começar o mais cedo possível.


Apesar da demora, não imaginei que eu terminaria isso hoje. Levou mais de um ano pra começar essa parte, mas foram basicamente 2 dias pra escrever tudo. Seria ótimo se eu seguisse esse exemplo nas próximas vezes que eu precisasse transcrever meus pensamentos.

O próximo capítulo precisa sair rápido.
Estou doente.

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